domingo, 25 de abril de 2010

A sogra que dançava.

Era já bem tarde para os lados do 3º esq
Uma melodia compassada escapava pelas rachas da parede muito gasta
Sons de passos abafados eram acompanhados pelo respirar ofegante da vizinha de cima
Ninguém sabia que luta seria aquela, nas entranhas do edifício degradado
Mas como era costume, ninguém perguntava
Especulava-se apenas, mas naquela parte da cidade, todos eram deixados ás suas vidas
Não havia motivo para não o ser assim
As paredes podiam ser tão finas como papel e as conversas tão audíveis como os carros na rua la em baixo
Mas aqui, e só aqui, ninguém fazia perguntas.

Nem parecia que este bocadinho de espaço cimentado fazia parte da grande metrópole que abraçava o pequeno largo.
Todos sabiam que todos os dias, há hora que era agora, sons como aquele que se ouviam agora vinham da janelinha la de cima.

O merceeiro, cá de baixo tinha mais com que pensar, passava o dia a esfregar as maçãs que chegavam de manhãzinha em caixinhas de papel, que ele prontamente desembrulhava com todo o carinho do mundo.

Um portão lamentava o esforço de ser aberto, era o músico misterioso que dali há uns meses tinha feito do largozinho a sua nova casa, esse também era uma criatura de hábitos, todas as noites depois de um cafézinho sentado há pequena esplanada que se desenrolava por entres as 5 árvores que por ali mostravam os seus vestidos rugosos, lá subia ele os poucos degraus que o levavam ao seu pequeno abrigo no 1º direito.
Ai acolhido entre 4 paredes e pouco mais, acariciava e convencia o seu violino a soltar as notas musicais que já tinham encantado tudo e todos, mas aqui ninguém fazia perguntas, aqui e só aqui ninguém gostava de as fazer.

Lá em baixo no café de vidros turvos, o burburinho normal destes sitios misturava-se com os outros sons, ocasionalmente, um GOLO !! , trespassava a acalmia do pequeno largo, mas rapidamente tudo voltava ao seu devido lugar.

Ali em cima uma dona de casa recolhia a roupa, cantarolava uma qualquer música já esquecida, que era a única melodia que sabia, mas isso não a demovia de a repetir uma e outra vez, era o seu salvo conduto, a uma vida monótona e cinzenta.

Ali alguns pássaros também haviam escolhido o largo como sua casa, e manifestavam a sua presença habilmente. Podiam ser pequenos, mas todos sabiam que lá estavam.

Nos telhados que ascendiam aos céus de lanças em riste ,pois ali todas as pessoas tinham uma antena só sua, os gatos preguiçavam aos últimos raios de sol.

Ora isto tudo passava completamente ao lado da senhora que transpirava na pequena divisão, decorada de uma maneira muito minimal, uma das paredes encontrava-se totalmente tapada por um enorme espelho, que reflectia a parca luz da pequena janela, dom outro lado da sala, uma pequena grafonola gemia.

E um e dois e um e dois...

... e um e dois ...

Ninguém sabia, mas a senhora que dançava, tinha em tempos desistido de um sonho, como a tantas pessoas acontece, todos pensamos ser os únicos com os nossos problemas, mas já ali ao lado há sempre alguém que pensa o mesmo.

Vivia sozinha há muitos anos, não saia muito de casa, e de vez em quando era visitada por uma rapariga nova.
Sempre que a rapariga visitava a sua casa, a senhora sentia um misto de emoções, sentia uma enorme alegria de poder olhar de novo a sua filha, mas em antítese, lembrava-se de que há tantos anos atrás tinha sido por ela que havia desistido do seu sonho... e era um sonho tão lindo ...

Já não chorava, há muito que as lágrimas haviam secado, há muito que sabia que era mais um empecilho para todos os que gostavam dela.

Mais um dia chegava ao fim, e mais uma vez, ela sentava-se na cadeirinha no hall de entrada há espera da filha ... após uns minutos de espera ouviria passos... isto se hoje fosse dia de visita... ela já nem disso se lembrava bem ... esperou , esperou e nada, finalmente desistiu, sabia que já ninguém viria.

...

Mais um dia e mais do mesmo ... pensou , a mesma rotina, sabia pelos exercícios que fazia, que cada vez menos eram os passos que conseguia fazer, estava a ficar demasiado velha e já nem em bicos de pé se conseguia aguentar...

Estava há espera de um milagre, fosse ele o que fosse, queria apenas que acontecesse...

Por vezes quando o seu ouvido não a traia conseguia ouvir alguém a tocar um qualquer instrumento de cordas algures num dos andares de baixo... Sempre que isso acontecia, uma alegria extrema inundava-lhe as feições, seria aquilo o seu milagre ???

Se sim ela não poderia dize-lo com certeza pois nunca havia presenciado um, será que se viam faiscas ? raios , ou até mesmo serpentinas ??

Por fim lá tudo acabou, sentindo a tristeza voltar, foi-se deitar na sua pequena cama, amanha seria um outro dia , igualmente igual ...

Ou será que seria mesmo ???


:) Espero continuar a história mais tarde, nem eu sei o que aconteceu, sou apenas alguém que vai escrevendo as coisas á medida que elas se vão revelando, um mero contador de histórias sem muito jeito para isso, mas entretanto deixo-vos com um desenho de como eu a imagino ...





:) até a uma próxima .

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Um Exercicio Mental numa cidade cheia de pessoas e situações.

A viagem …


Um Exercício Mental numa cidade cheia de pessoas e situações.

Numa cidade cheia de tudo, há sempre alguém que inicia uma jornada , há sempre alguém que foge a vida quotidiana e vê outras vidas passar , há sempre alguém que contempla ,há sempre alguém que se sente completo só por escolher contemplar .

O sujeito mescla-se com os volumes da cidade num só, muitas vezes não se distanciando do cinzento que consolida a austeridade á metrópole.

Por aqui e por ali todos nos sentimos parte dela, e mais uma vez o sujeito contempla o mar , o rio o as marés de gente , as rodas incansáveis dos carros que ruidosamente passam sem ser identificados , anónimos ao escrutínio daquele que contempla .

Nuvens pesadas denunciam a falta de brandura da natureza para com os homens , mas isso não demove o que contempla , pelas sombras de tudo o que lá esta , aquele que contempla cria a sua historia .

No fim , ele é apenas aquele que contempla , e que ao contemplar cria a historia daqueles que passam e que não contemplam …


Rúben Botelho


( Trabalho para a disciplina de Fotografia de exterior\autor Etic , 2009 )


Algumas das fotos que são parte deste trabalho .













Ao todo são 20 fotografias , 15 digitais e 5 anaogicas ( reveladas , ampliadas por nós )

Uma exposição está a ser discutida , tendo este trabalho como base :)


Até á próxima...

...Bons Clic´s